Ouça o comentário de Rodolfo Rizzotto

O fim do DPVAT, sacramentado hoje no Congresso, revela o descaso da elite política e de boa parte da sociedade com a população mais humilde. Protegidos atrás de seus carros, a elite de direita e esquerda não hesitou em virar as costas para os que não têm veículos e são as maiores vítimas do trânsito brasileiro: pedestres e passageiros, especialmente os mais pobres.

Essas vítimas, que já sofrem com a impunidade no trânsito, foram definitivamente abandonadas. Agora, terão de chorar seus mortos e cuidar dos inválidos sem nenhum suporte financeiro. O único seguro social do país, que por quase 50 anos garantiu um mínimo de dignidade a essas famílias, foi enterrado com a aprovação de 444 votos no Congresso e apenas 16 contra.Oportunistas de esquerda e direita votaram juntos porque são iguais.

A responsabilidade recai sobre o governo anterior, que deu início ao desmonte, e o atual, que se omitiu diante da tragédia anunciada. A extinção do DPVAT, e do seu natimorto SPVAT, é um retrocesso inacreditável, extinguindo um conceito revolucionário concebido pelo criticado governo militar para proteger as vítimas mais vulneráveis.

A comemoração dos "vitoriosos" se resume à economia de algumas dezenas de reais por ano, que muitos provavelmente gastarão em algumas horas, nos bares e restaurantes de luxo da capital federal.

Enquanto isso, as vítimas do trânsito — desprotegidas e invisibilizadas — seguirão sem amparo. Muitos desses algozes ainda dirigirão alcoolizados, amparados pela impunidade que nem a "Lei Seca" consegue combater integralmente.

Nestes seis dias que antecedem o Natal, estima-se que pelo menos 600 pessoas morrerão no trânsito brasileiro e outras 3.600 ficarão com sequelas. A maioria delas pessoas simples, sem recursos que herdarão apenas a dor.

Todas essas vidas e histórias, agora mais desamparadas que nunca, são o reflexo de um país que escolheu a indiferença como política pública.

( estradas.com.br )